Da esq. para dir.: Harry Wottrich; Leonardo Maranhão, Fabrício Magnago, Roberto Papaiz e Edison Claro
A AFEAL – Associação Nacional de Fabricantes de Esquadrias de Alumínio – convocou os fabricantes para discutir os principais problemas do cotidiano das empresas no ‘Encontro Nacional da Indústria de Esquadrias de Alumínio’, no dia 12 de setembro, durante a Fesqua 2014, em São Paulo. O auditório lotou, com a presença de 140 empresários e profissionais do setor, de 16 estados brasileiros.
Em seu discurso, Lucínio Abrantes dos Santos, presidente da AFEAL, disse que o encontro seria uma importante oportunidade para colocarmos na mesa os problemas do dia a dia das empresas. “Vamos discutir as relações das empresas com as construtoras, contratos, produtividade e competitividade. Falaremos sobre mão de obra, inovação e relacionamento com os fornecedores. E, ainda, sobre aspectos fundamentais dos produtos envolvendo normas técnicas e o PSQ – Programa Setorial da Qualidade das Esquadrias de Alumínio. O objetivo daAFEAL é identificar os principais gargalos das indústrias do setor e construir uma pauta de ações para o encaminhamento de soluções”, afirmou, lembrando que outras reuniões semelhantes serão programadas para o próximo ano, aprofundando os temas cruciais para o setor.
Relacionamento com construtoras
Os debates começaram com painel dedicado a discutir as questões sobre o relacionamento dos fabricantes com as construtoras. Para abordar o assunto, estiveram presentes na mesa-redonda Lucínio Abrantes dos Santos, presidente da AFEAL; Amândio do Nascimento, presidente da AFEARJ – Associação dos Fabricantes de Esquadrias de Alumínio do Estado do Rio de Janeiro; Roberto Almeida, titular da Squadrilar (BA); Alberto Henrique Cordeiro, titular da 3A Alumínio (SP); e Raul Ferreira Costa Junior, titular da Cosbiem (SP) e mediador do painel.
Para embasar os debates, César Ribeiro, diretor do IAM&M – Instituto de Assessoria Mercadológica e Mercadométrica – apresentou um resumo da pesquisa contratada pela AFEAL para mapear o setor. Foram identificadas 5,5 mil empresas do setor no país, com uma taxa de ocupação de 81% e de produtividade de 437 quilos/funcionário. Contra os 8% ao ano de crescimento do drywall, as janelas e portas de alumínio crescem a 6,3%. O mercado brasileiro de caixilhos é abocanhado na sua maior parte pelo aço com 45% do total, seguido pela madeira que fica com 31%, o alumínio que responde por 22% e o PVC com 2% da produção nacional. A divisão entre as regiões mostra que o Sudeste concentra 39% do mercado total de esquadrias, sendo 49% de alumínio, enquanto que o Nordeste detém 30%, sendo 13% de alumínio.
Do total pesquisado, 73% das empresas voltam sua produção para as esquadrias residenciais, sendo 50% anodizadas, 44% com pintura eletrostática a pó e 6% natural. E, 49% dos produtos vendidos servem às obras de reforma e ampliação. A pesquisa ouviu também arquitetos, consultores e construtoras e concluiu que os fabricantes devem buscar maior proximidade com esses segmentos, de forma a valorizar sua marca. Constatação que coincide com o desejo identificado entre arquitetos e consultores, importantes apoiadores dos selos de qualidade. As normas técnicas das esquadrias são conhecidas por 70% das construtoras ouvidas, mas é preciso fazer valer junto a esse universo as conquistas do PSQ, através de informação constante. Recomendação importante a partir dos dados obtidos é que os fabricantes adotem ações de marketing eficazes, para que o consumidor perceba as marcas dos produtos como agregadoras de valor ao imóvel.
A introdução sobre os problemas comuns à maioria dos fabricantes foi feita por Raul Ferreira, que destacou aspectos como a venda direta perniciosa e a visão que parte do mercado tem de que as empresas vendem esquadrias por quilo de alumínio, e não como produto industrializado. Os debatedores lembraram que, para atender as imposições das construtoras, o setor tem aceitado abrir mão de atribuições rentáveis e assumindo outras que estão fora do escopo de trabalho da indústria. Ficou claro que as construtoras estão preparadas para fazer com que os fabricantes cumpram seu dever e que, portanto, o setor necessita se preparar também. Um exemplo prático é que, na Bahia, as empresas conquistaram alguns avanços, como fazer com que as construtoras assumam o transporte das esquadrias até o andar onde serão instaladas.
Foi relatada experiência de indústria, no Rio de Janeiro, que conseguiu mitigar cobranças abusivas realizando relatório fotográfico da obra, o que também aumentam as chances de o fabricante se defender no caso de ação jurídica. Ficou a recomendação que informar as construtoras que a responsabilidade jurídica cabe a elas, quando praticam a venda direta perniciosa.
A alternativa imediata para combater os problemas de relacionamento com as construtoras é a Proposta Técnica, documento elaborado pela equipe técnica da AFEAL que auxiliará no momento de as construtoras contratarem fabricantes de esquadrias de alumínio. Entretanto, para que tal ação atinja o resultado esperado, é preciso que as empresas se unam e adotem o documento que deve ser anexado aos seus contratos.
Produtividade e Inovação
O segundo painel abordou questões relativas a produtividade e inovação nas indústrias do setor. Participaram: Leonardo Maranhão, diretor da Pórtico Esquadrias (PE); José Sabioni de Lima, titular da Itefal (SP); José Augusto, gerente Comercial da Ebel Esquadrias (SP); e José Sampaio de Souza Filho, titular da Alpha Metalúrgica (CE); e Enio Ferreira, gerente Comercial da Atlântica (SP), mediador dos debates.
O painel foi aberto pelo case apresentado por José Sampaio, titular da Alpha Metalúrgica, de Caucaia, empresa criada há 22 anos. Em 2009, a indústria se viu diante da necessidade de elevar a sua produtividade, porém contando com uma mão de obra pouco qualificada. “A AFEAL, a quem busquei, providenciou uma reunião com a presença de representantes do Senai e do Instituto Votorantim”, relatou Sampaio, acrescentando que até aquele momento planejava criar um programa intitulado ‘Universidade do Alumínio’, para treinar o seu pessoal. O que ouviu e viu no encontro e nas visitas que fez na capital paulista alterou radicalmente seus planos, a começar pelo nome do programa que passou a se chamar ‘Indústria do Conhecimento’.
A implantação exigiu adequações da fábrica, a criação de sala de treinamento e o envio de um funcionário para um curso de três meses no Senai, em São Paulo. Os funcionários passaram a ter aulas durante o expediente ou depois, com pagamento de hora extra. Entre 2011 e 2013, o programa já havia decolado e Sampaio decidiu envolver os filhos dos funcionários nos treinamentos, preparando-os para o primeiro emprego na própria Alpha. Foi uma iniciativa acertada, pois aumentou a renda das famílias envolvidas e evitou a evasão de funcionários para outras empresas.
A terceira e atual fase do programa segue além dos portões da indústria e abrange, agora, a comunidade. Os resultados vieram: nos últimos dois anos, a Alpha registra aumento de 23% ao ano na produtividade; o absenteísmo está abaixo de 1,2%; o turnover é de 2%; e a fidelização dos clientes alcança 95%. Participante do PSQ de Esquadrias de Alumínio foi a primeira do Ceará a se qualificar junto ao PBQP-H e a segunda do Nordeste a conquistar a ISO 9001. “Temos quatro projetos de inovação financiados pela Finep – empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação – e CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico -, além de vários prêmios obtidos. A experiência está disponível a todas as empresas do setor que podem e devem replicá-la”, concluiu José Sampaio.
Dos debates que se seguiram, ficaram algumas lições. A mais urgente é que todos entendam o setor como indústria – passo fundamental para a busca da eficiência e produtividade, avanços que passam pela qualificação da mão de obra e padronização de processos produtivos. Muitos opinaram, mas permanece a discussão sobre temas como a opção de terceirizar ou não a fase de instalação de esquadrias e fachadas, e a necessidade de lançamento de novos sistemas de esquadrias ou, até mesmo, o desenvolvimento de linhas próprias, tornando a indústria autossuficiente.
Normas Técnicas e Qualidade das Esquadrias
O último painel do encontro abordou o tema das normas técnicas e qualidade das esquadrias. Para debater o assunto, foram convidados ao palco Harry Nelson Wottrich, titular da Trifel (SP); Fabrício Magnago, titular da Magnago (ES); Elizeu Mannala, titular da Mannala (PR); Roberto Papaiz, titular do EuroCentro (SP); e Edison Claro de Moraes, titular da Atenua Som (SP) e responsável pela mediação do painel.
Harry Wottrich relatou a experiência de sua empresa, a primeira a aderir ao PSQ de Esquadrias de Alumínio constituído em 2001. Segundo ele, parte das empresas do setor está mais preocupada com o volume de produção do que com a qualidade do produto final. Um dos empecilhos que as indústrias enxergam para começar a atuar em conformidade com as normas técnicas é a possível perda de mercado no primeiro instante, como ocorreu com a Trifel. “Entretanto essa baixa nas vendas é passageira e todo o investimento é recuperado com o passar do tempo. A norma técnica é um balizador e as empresas não podem desistir de fabricarem produtos conformes”, assegurou.
Em case relatado por Fabrício Magnago, sua empresa demorou somente três meses, após entrar para o PSQ, para começar a atuar em conformidade e obter a qualificação com linha própria. Ao final do primeiro semestre, registrava prejuízo nas vendas, mas rapidamente a empresa se recuperou e dobrou o volume comercializado. Ele concluiu: “Não há mérito nenhum nisso. Não adotar as normas é estar fora da lei. É como criar um passivo fantasma”. Para os debatedores, um dos entraves para o crescimento do PSQ é o pouco conhecimento técnico do setor e, também, dos parceiros de mercado.
Os participantes do painel saíram com a certeza de que ser empresário é diferente de ‘juntar’ perfil, afinal o setor evoluiu muito nos últimos anos e já dispõe da tecnologia necessária para fabricar produtos em conformidade com as normas. Concordaram, também, que as empresas têm potencial, mas para alcançarem a qualidade, precisam quebrar paradigmas, como o complexo de inferioridade diante do mercado. Para isso, é preciso investir no quesito humano e não somente em maquinário.
O fechamento dos debates feito por José Carlos Basso, consultor da AFEAL para o Planejamento Estratégico, foi além ao recomendar que as empresas invistam, também, na capacitação de seu corpo gerencial. Comparando a produção de esquadrias com a de automóveis, destacou que o setor automotivo valoriza normas e padronização. “É preciso fazer janelas como se faz carros”, disse, lembrando que a evolução dos automóveis nas últimas décadas, com novas ferramentas agregadas, faz com que as pessoas paguem pelo seu valor e não aceitam quando não têm. Ou seja, ninguém questiona o preço de um produto com valor agregado.
Fonte: ViaVerbo